quinta-feira, 29 de junho de 2017

À minha filha Matilde

Querida filha,

Quando entraste na minha vida senti uma enorme alegria, desconfiei que estava grávida muito rapidamente e preparamo-nos para te receber, com tanto amor como já tínhamos recebido a tua irmã. Na verdade, tu terias ainda mais sorte, em vez de seres recebida por dois corações, serias recebida por três, o meu, o do pai e o da Nonó.

Creio que a agitação que senti ao longo de todo a gravidez, foi já um aviso do furacão que aí vinha. Tantas voltas deste que eu cheguei a achar que vinha aí uma atleta de alta competição (o que não está assim tão longe da verdade). Já sabes que nos pregaste um grande susto à nascença, já te contei quando achei que tinhas idade para entender. Por isso, a verdadeira alegria (depois do momento em que soube que estava grávida), tive quando te trouxe para casa connosco.

Ouvimos muitas vezes dizer que, quando temos o segundo filho, corrigimos muitos dos erros que cometemos com o primeiro: deixamos de correr sempre que choram, damos menos colo... Contigo não foi nada assim. Desde o dia em que chegaste a casa que te dei mais colo do que creio ter dada a qualquer uma das tuas irmãs. Lembro-me perfeitamente, que depois de ter dar leitinho, adormecias no meu colo e eu, simplesmente, não te queria ir deitar na cama. Apenas te queria ali, comigo, junto a mim.

Entretanto começaste logo a dar sinal de ti. Um choro alto, estridente, que ninguém podia ignorar. Quando começaste a crescer um riso alto, alegre, contagiante, que mostra que és feliz e trazes felicidade para quem está à tua volta. Continuaste sempre assim. Ris-te com vontade, com gargalhadas abertas, francas, sem querer saber se os outros acham ou não graça ao que tu estás a achar.

Continuas mexida, tal como te mexias imenso na minha barriga. Recordo os dias de Inverno, nos quais, após a sesta, acordavas tão enérgica que me fazias pensar que estava a assistir a uma partida de ténis, pois passava o tempo todo a olhar de um lado para o outro. Continuas assim. Bem, não tanto, a energia continua imensa, mas já mais equilibrada, controlada, comedida. Afinal, aprendeste a aproveitá-la da melhor forma, para as estafetas no colégio, os jogos de voleibol, as brincadeiras com os amigos.

Recordo teres nascido e uma grande amiga, que tem apenas uma filha, me ter perguntado se conseguia gostar tanto de ti como da filha mais velha. Na verdade, ela gosta tanto da filha que não entendia se seria possível amar outra da mesma forma. Na altura expliquei-lhe que sim, que te amava (e amo, naturalmente) tanto como amo a Leonor (e agora também à Mafalda) e que isso era muito fácil, muito natural. Nunca houve um momento em que tivesse tido essa dúvida. Sabes porquê? Porque na verdade, aprendi convosco que, quando nasce um filho, não retiramos amor aos outros que já cá estão, o amor que temos para dar cresce com esse filho. O meu amor cresceu contigo. 

Bem sei que não é fácil ser a mana do meio. Querer agradar à mana mais velha, querer ser e parecer mais velha do que a mais pequenina. No entanto, acredito que tenhas conseguido encontrar o teu lugar. O da mana atlética, que acompanha bem os rapazes, mas não é maria rapaz. A mana que é muito feminina, ao seu jeito, mas é mais desportiva, até na forma de vestir. Sabes filha, até acho graça quando te aborreces porque não queres que te achem gémea da Mafalda. Entendo-te, mas acredita em mim, quando fores mais crescida até vais gostar que pensem que és mais nova.

Minha querida Matilde, agora que fizeste 10 anos (bem sei que já foi na outra semana, mas queria que voltasses do teu passeio de finalistas para que pudesses ler esta carta com calma), apenas te quero dizer que tenho muito orgulho em ti. Na menina alegre que continuas a ser. Nas gargalhadas estridentes que dás. No facto de teres um excelente comportamento na escola, apesar de eu saber o que te custa estar tanto tempo sentada, na sala de aula, porque o que tu gostas é de correr e saltar. De quão protectora és das tuas irmãs, de estares disposta a defendê-las quando eu me aborreço com elas. De procurares ser tão correta e cuidadosa com os sentimentos dos outros, que quando fazem coisas de que não gostas tanto, me vens contar e não és capaz de lhes dizer, para que não fiquem tristes. Do facto de seres a minha menina responsável e arrumadinha, que gosta de me ajudar na cozinha e que está (quase) sempre disposta a ajudar sem reclamar. Na menina generosa que és. Na alegria que trazes para a nossa casa.



Amo-te muito e o meu desejo é que sejas muito feliz.

Beijinhos gigantes como o teu coração,

Mãe. 


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